Promessas de lucros multimilionários, muita gente recém-chegada e uma quantidade enorme de jovens tornam o mercado cripto um playground para os manipuladores. Segundo dados da empresa de análise para blockchain Chainalysis, os esquemas armados no ano passado capturaram US$ 2,8 bilhões em criptomoedas e 37% deste total foram na modalidade “pump and dump”, também conhecida como “rug pull”.
O motor mais potente desta engrenagem enganosa, sem dúvida, são as redes sociais, que hoje têm o poder de levar à lua ou ao solo, em questão de minutos, uma criptomoeda.
Reddit, Discord, Twitter, Instagram e Tik Tok são os preferidos dessa multidão de entusiastas, que se empenham fortemente em catapultar ao sucesso um projeto ou, às vezes, até derrubá-lo, caso seja essa estratégia. Esses núcleos são particularmente atraentes para os aproveitadores, que se infiltram ou usam sua influência para inflamar comunidades com o objetivo de praticar o “pump and dump”.
O que é Pump and Dump?
Na tradução para o português, a expressão significa “inflar e largar”, amplamente conhecida no mercado de investimentos. Refere-se à manipulação artificial do preço de um ativo por um indivíduo ou grupo para obter vantagens.
O movimento do “pump” tem início quando um fraudador compra grandes quantidades de um ativo e começa a plantar informações sensacionalistas ou falsas, as famosas fake news, sobre uma “grande valorização” dele. O objetivo é provocar um efeito de manada, uma corrida de compradores atrás do projeto em questão. Ou seja, ele joga com as notícias para “inflar” a valorização.
Em seguida, entra em cena o “dump”. Com o aumento da demanda pelo ativo, o preço sobe e o especulador se desfaz de suas posições no ativo, embolsando os lucros e fazendo os preços desabarem.
No Brasil, essa prática é considerada ilegal e costuma resultar em muitos prejuízos para aqueles que não conseguem desmascar o esquema e entram na corrida para adquirir o ativo inflado.
No mercado cripto, o lance é ainda mais sério. Hoje, existe uma facilidade muito grande de “fabricar” criptomoedas e, ao serem lançados no mercado, muitos projetos enganosos prometem retornos astronômicos na velocidade da luz ou aproveitam um hype para se destacar.
Exemplos recentes de esquemas Pump And Dump
Um episódio recente estampa muito bem esse oportunismo. No fim de outubro do ano passado, aproveitadores pegaram carona no sucesso da série coreana “Squid Game”, batizada de “Round 6” no Brasil, para armar um esquema que resultou em um lucro de 3 milhões USD para o grupo. Eles lançaram a cripto SQUID no mercado a 0,01 USD e, em poucos dias, a moeda chegou a valer 2,8 mil USD, segundo o site especializado Cointelegraph.
Em seguida à fenomenal valorização, SQUID desceu a ladeira para módicos 0,00079 USD. Os criadores da moeda aproveitaram o topo, venderam suas posições e embolsaram o lucro, deixando os investidores a ver navios.
Um dos maiores “infladores” de mercado da atualidade é também o homem mais rico do planeta e atende pelo nome de Elon Musk. Árduo defensor da moeda meme do cachorrinho Dogecoin, o fundador da Tesla precisa postar apenas um tuíte para dar início ao efeito manada. Sempre que Musk faz declarações sobre um ativo na rede social, é certeza de que milhões de investidores entrarão numa corrida de compra ou de venda.
É o que sempre acontece quando o bilionário fala da Doge Coin (DOGE) e da Shiba Inu (SHIB). As criptomoedas são vistas com desconfiança pelos especialistas, principalmente por não serem baseadas em projetos com propostas relevantes, mas caíram nas graças de Musk e, por isso, têm uma legião de fãs ao redor do globo.
O mesmo acontece com o BTC. Em 2020, ele passou a publicar alguns memes positivos sobre a cripto. Naquele ano, a Tesla comprou aproximadamente 1,5 bilhão USD em BTC e oficializou a moeda como forma de pagamento para seus veículos elétricos.
No entanto, no ano passado, a companhia voltou atrás na decisão. O ativo, naquele 12 de maio, registrou uma queda de 15% apenas duas horas após a publicação de Musk no Twitter.
Desde 2018, o CEO da Tesla está sob investigação da SEC, a versão americana da Comissão de Valores Mobiliários. O órgão acredita que as publicações feitas por ele no Twitter podem ter tido segundas intenções. Principalmente porque incluírem uma série de informações capazes de direcionar a tomada de decisão de milhares de investidores.
Outras personalidades estão sendo acusadas da prática. Em janeiro deste ano, Kardashian virou réu em um processo do tipo, ao lado do boxeador americano Floyd Mayweather Jr e do jogador de basquete Paul Pierce.
Influenciadora com 285 milhões de seguidores só no Instagram, Kim fez um post em 2021 que falava a seu público sobre “oportunidades” com o token Ethereum Max, pouco antes de os executivos venderem tudo e reduzirem o preço da cripto a pó.
Como não cair em esquemas de Pump and Dump
Veja abaixo minhas melhores dicas para não ser vítima de esquemas de Pump and Dump!
1. Estudar é o melhor remédio
Muito usada na área de investimentos, a palavra FOMO, sigla em inglês para a expressão “medo de ficar de fora”, ganhou uma nova dimensão no universo das criptomoedas.
Isso porque, diferentemente do mercado tradicional, os preços das criptos podem ir à lua em minutos. Só para se ter ideia, o BTC valorizou mais de 9.000.000%. É comum ver valorizações de 1.000%, 2.000% em apenas um dia. Tantos zeros saltam aos olhos de qualquer um, principalmente de aventureiros e despreparados, ansiosos para multiplicarem os seus patrimônios em menor tempo possível.
A melhor arma contra o FOMO é o conhecimento. Antes de comprar uma altcoin em particular, pesquise sobre as propostas do projeto, sua história, a força da comunidade e quem está por trás dele. O valor de uma criptomoeda está em sua capacidade de resolver um problema tecnológico, ajudar a comunidade, agilizar processos, democratizar acessos, etc..
O medo de ficar de fora bate especialmente nos recém-chegados ao mercado. Um agravante é que o público cripto é cada vez mais jovem e a impulsividade acaba funcionando como mais um fator de peso.
Veja esse levantamento feito pela Yubo, uma rede social de live streaming voltada para a geração Z. A empresa abordou brasileiros entre 13 e 24 anos para saber seu envolvimento com criptomoedas.
Feita com quase 1.500 jovens, a pesquisa revelou que 35% deles compram criptomoedas porque acreditam que será a moeda do futuro, enquanto 25% afirmaram que compram pela possibilidade de ganhar muito dinheiro. Outros 15% apostam nelas como uma economia para o futuro. Já 12% consideram que comprar criptos é mais fácil. Por fim, 10% admitiram comprar porque “está na moda”.
Em relação à confiabilidade das moedas digitais, 50,2% disseram crer que as criptomoedas são dignas da mesma confiança que as moedas tradicionais e outros 49, 8% disseram que não. Entre o público, 75% pensam que elas serão as moedas do futuro e 25% não acreditam nisso.
Perguntados se topariam receber criptomoedas como pagamento por um mês de trabalho, 38% contaram que preferem a moeda tradicional, enquanto 35% disseram que topariam.
2. Não aceite ‘diquinhas’
As flutuações do mercado são resultado da psicologia humana. Quando há um grupo falando sobre algo, é da natureza das pessoas querer fazer parte, pertencer ao movimento. As celebridades do “pump and dump” estão aí para provar que são capazes de manipular em tempo recorde um número gigantesco de fãs.
Mas não é preciso nem um grande personagem do showbusiness para isso. Sabe aquele amigo que lhe indicou uma “cripto legal que pode ter uma grande valorização”? Resista a investir também se você ouviu falar que blockchain é a última moda e não quer ficar de fora.
As memes coins são o exemplo mais gritante desse comportamento humano. Elas não têm fundamentação, mas podem gerar lucros extraordinários. Sua força vem das comunidades, dos grupos de apoio, que conseguem manter as moedas no hype mesmo não tendo funções específicas.
Por conta da sua falta de valor intrínseco, são chamadas de shitcoins. Têm altíssima capacidade de se reproduzir e arrastar multidões junto.
Existem realmente pessoas que ficaram ricas com as moedas digitais, não de forma milagrosa, mas porque, lá atrás, optaram por fazer uma aposta em um sistema financeiro de vanguarda.
Outro facilitador de esquemas como o “pump and dump” é a falta de regulamentação. Os países ainda estão tentando entender todo o ecossistema para, então, estabelecer regras que conduzam o desenvolvimento do mercado.
3. ‘Play before you pay’
“Experimente antes de pagar”. Essa é uma máxima que pode prevenir roubadas catastróficas. Quando for investir em ativos de risco, comece aos poucos. Abra a sua conta numa exchange, entenda como é fazer uma compra, pegue um pequeno valor e faça um teste. Dependendo dos seus resultados, dê um passo à frente ou volte uma casa. A ansiedade é a maior inimiga nessa hora.
4. Mantenha a sua estratégia
Primeiro, tenha um planejamento. Segundo, se mantenha fiel a ele. Esta é uma estratégia vencedora na maior parte dos casos. Você é investidor de longo prazo? De curto prazo? Qual é o seu objetivo? Só você pode responder essas questões. Existem formas de atuar no mercado e elas devem estar associadas ao que você espera do investimento.
O problema em manter a estratégia, geralmente, é ver todo mundo indo para uma direção enquanto você fica parado ou fica de fora. Neste momento, você precisa ser forte para não cair nas armadilhas da mente.
Cautela ao Seguir em Frente
Esquemas de Pump and Dump são especialmente comuns em novos projetos, que costumam causar muito hype em redes sociais. Siga minhas dicas passadas aqui e muito cuidado a tomar novas decisões de investimentos. Situações como essas podem ser mais raras em moedas mais consagradas, mas ainda podem acontecer. É claro que nesse caso o efeito não será tão catastrófico quando em moedas menores e com mercados menos maduros.
No geral, mercados mais estabelecidos são mais resistentes a manipulações de preços. Por isso, a hora de decidir em quais mercados entrar é uma das mais importantes na sua vida de investimentos. Fique de olho aqui no blog para mais informações!